joao-ernestoGenialidade ou embotamento?
Por João Ernesto Figueiredo

A potência cerebral cognitiva do primeiro primata que ficou em pé era irrelevante face o ser humano tipo 2018.

O primeiro primata humano surgiu na África, há 6/8 milhões de anos. O homem moderno há 150/200 mil anos.

– há 3 milhões de anos atrás o nosso cérebro ainda não era maior que o dos chimpanzés.

– entre 1,8 e 2,4 milhões de anos atrás o ser humano criou ferramentas a partir da pedra e começou a falar.

– entre 1,6 milhão e 250 mil anos atrás o homem começou a usar ferramentas mais elaboradas, o fogo, viver em cavernas, caçar em grupo e ao sobreviver ao frio saiu da África e rumou para o Norte.

– entre 250 mil e 30 mil anos atrás começou a usar roupas, enterrar os mortos e ter algum tipo de religião.

A linguagem, a capacidade de inventar e criar novas ferramentas são características únicas do gênero Homo.

O uso de ferramentas para obter fontes ricas de calorias para o cérebro e a medula óssea foi o principal fator que “explodiu” a evolução humana ao longo de centenas de milhares de anos. Isto aumentou a inteligência humana pelo crescimento do cérebro.

As artes da caça e da guerra aceleraram o avanço intelectual, com advento da capacidade de planejamento, inteligência e astúcia.

O advento da inteligência simbólica avançada trouxe para os seres humanos prêmios e consequências.

O autoconhecimento, permitiu julgar a realidade de maneira subjetiva e conceituar nossa existência.

A autorrealização permitiu que os seres humanos pré-históricos fossem capazes de desenvolver estratégias, planejar e antecipar o futuro. Outra habilidade foi a capacidade de produzir símbolos e abstrações.

A linguagem deu a capacidade de nos comunicarmos através de um sistema aberto com flexibilidade quase infinita de símbolos sonoros (palavras), portanto, permitindo-nos passar para gerações sequentes crenças, realizações, invenções, entendimentos e conhecimentos para os outros humanos, geração após geração.

Outra dádiva da inteligência, a capacidade de observar a natureza e entendê-la, levou à arte e à ciência.

A linguagem trouxe cultura, preservação de costumes, comportamentos, atitudes e transmissão de saberes, geração após geração. A religião está intimamente ligada a mitos e história falada. Há em todas as culturas humanas.

No passado, as culturas desprovidas de linguagem escrita, foram repassadas por contadores de histórias. Muitos conseguiam decorar extensas “histórias”, às vezes na forma de cânticos e poemas, mais fáceis de memorizar, que foram repetidos oralmente e repassados de geração em geração através do aprendizagem por memorização.

Com o tempo surgiram as manifestações culturais mais típicas da era moderna, como a escultura, a música e a dança. As máquinas modernas já repetem isso.

Embora haja animais com alguma inteligência, só o Homo sapiens desenvolveu e apresentou combinação única de funções neurais que podemos legitimamente chamar de inteligência com “I” maiúsculo.

Como se notou acima, as necessidades, as persistências e a característica evolutiva intrínseca do cérebro foi se aprimorando, com saltos e retrocessos, mas em curva indubitavelmente ascendente. Se analisarmos o passado recente, digamos o período pós Idade Média, sem desprezar técnicas principalmente de guerra e de construções religiosas já anteriores, ou os últimos 600 anos, a curva teve tendência fortemente assintótica.

Se enfocarmos o passado recentíssimo, últimos 200 anos, onde no ensino fundamental o cérebro foi desafiado a elaborar cálculos matemáticos, realizações inventivas em todas as áreas manuais e intelectuais, discurso verbal de alta capacidade de convencimento, evolução artística pós obviedade, organização sucessivamente mais eficiente e por aí afora ouso afirmar que atingimos uma agilidade cerebral certamente superior às de, para não ir longe, duas gerações anteriores, salvo as sempre honrosas exceções.

Traduzindo em miúdos, se nossa capacidade cerebral (cidadão médio) era de “X megas intelectos” hoje deve ser “Y gigas intelectos”. Talvez até porque tenhamos passado pelo período da aceleração das invenções, que mais incrementaram que restringiram as necessidades de progresso e portanto a evolução cognitiva.

Prevê-se que nossa inteligência continuará a crescer, através de 3 mecanismos epi-genéticos e artificiais:

-Intervenções com drogas cognitivas (inteligentes), estimulação cerebral interna e externa e até neurocirurgias.

-Intervenções genéticas diretas, como mutações genéticas induzidas, engenharia genética, etc., que alteração nossa arquitetura cerebral, sem aumentar o volume. Todos nós poderemos ser gênios.

-Simbiose de cérebros/computadores/robôs. A chamada singularidade final, onde talvez a inteligência artificial (memória, por exemplo) passe a natural, possível por volta de 2050.

Máquinas e humanos poderão se fundir em seres biônicos com inteligências ultra-especializadas.

Espero que não alvejem a libido.

Mas voltando à realidade atual, está surgindo um fenômeno com acelerada aparência nova: temos à disposição tudo, sem esforço. Um simples celular fala, escuta, enxerga, transmite imagem, informa sobre praticamente tudo, resume, guarda, processa, envia, traz, vende, escolhe, sugere, compra, calcula, projeta, desenha, resume, programa etc, etc, e os drones estão aí para levar e trazer e as impressoras 3D e os robôs para fazer quase tudo. Não precisamos sequer falar e escrever, os emoticons já dão o recado.

Só faltam 2 invenções estruturais: comunicação por pensamento (já há gente investindo) e se desmaterializar e voltar (não um rato pelado), provavelmente com velocidade da luz, o que abrirá a almejada conexão espacial.

Mas, nesse interregno como ficará o nosso cérebro de carne e osso?

Analisemos as gerações atuais: é necessário separar os nascidos até, digamos 1980 que herdaram apetrechos maravilhosos, mas, digamos “isolados e comportados” como a televisão, a Ferrari, as vacinas, o jato, etc, daqueles mais recentes, intercomunicáveis.

Os indivíduos das gerações X e Y já se mostram um pouco “diferentes”, embora em meu ponto de vista para melhor, mas eles ainda tiveram que aprender o “beabá do conhecimento” de forma sofrida (aulas presenciais, “decoreba”, cobrança de comportamento) e portanto desafiadora.

Já á geração Z, que compreende nascidos de 1992 a 2010, está ligada intimamente à expansão exponencial da internet e dos aparatos hiper tecnológicos (quem tem noção de nanotecnologia?).

As pessoas da Geração Z são conhecidas por serem “nativas digitais”, muito familiarizadas com a World Wide Web, com o compartilhamento de arquivos, com smartphones, tablets, e resumindo: sempre conectadas.

Se pensarmos um pouco, notaremos que membros desta geração nunca viram o mundo sem computador. Outro traço essencial dessa geração é o conceito de mundo desapegado de fronteiras geográficas.

A globalização para eles não foi um valor adquirido no meio da vida a alto custo. Aprenderam a conviver com ela já na infância. Pelas mídias sociais convivem com indianos, islandeses e peruanos, mesmo que via símbolos.

E a tradução verbal instantânea via fones está chegando (mais profissões para o brejo: professores, tradutores, guias). Como informação não lhes falta, estão um passo à frente dos mais velhos, atônitos com novos tempos.

Os maiores problemas dessa geração são relacionados à interação social. Paradoxalmente, por estarem tão conectados virtualmente, muitos deles sofrem com a falta de intimidade gerada pela comunicação verbal, o que acaba por causar diversos problemas com as outras gerações. Segundo alguns analistas, essa geração também é marcada pela ausência da capacidade de ser ouvinte.

A Geração Z é um tanto quanto desconfiada quando o assunto é carreira de sucesso e estudos formais, a maioria já não acredita mais em fazer uma só coisa para o resto da vida ou passar sua vida profissional inteira em uma só empresa. E vão viver 120 anos, e o INSS terá quebrado antes. Muitos da geração Z, inclusive, trabalham de casa, é o chamado Home Office, seja em um emprego formal em uma empresa liberal ou informalmente, ganhando dinheiro com blogs, mídia, venda de anúncios YouTube, publicidade, etc.

Segundo especialistas poderá haver “escassez” de médicos e cientistas no mundo pós-2030 justo por isso.

Enfim, essa geração tem um grande problema, segundo as demais: é a mais fechada de todas, onde cada um está sempre fechado em seu mundo e isolado através de fones de ouvido (seja em ônibus, universidades, em casa, no ambiente de trabalho). São os que escutam pouco e falam menos ainda. Pelos demais eles podem ser definidos como a geração que tende ao egocentrismo preocupando-se só consigo mesma na maioria das vezes. Para os mais antigos pode parecer que houve uma mecanização do “pessoal do escritório”.

E a geração pós Z, digamos ∑ que é infantil e pouco sabemos de seu futuro comportamento sócio intelectual?

Alguns aproveitarão a ocasião. Já se interconexam com tudo fazem 10 maquinações simultâneas, utilizam toda a base eletrônica, mas há preguiçosos, acomodados, que usarão facilidades para estender sua preguiça.

A preguiça é a mãe de todos os males que nos afetam. Será que isto não nos embotará, pela preguiça cerebral?

Adote uma “cadeira de rodas dos sonhos”, que associada a hiper eficazes meios de locomoção o faça abdicar da capacidade de andar. Depois de um ano, suas pernas afinarão e você não se manterá de pé.

Intuo que, cada dia mais, nas escolas, as estudadas, programadas, sequentes e organizadas quebrações de cabeça para resolver teoremas, decorar e redigir textos, traduzir, interpretar etc serão substituídas por toque de botão

Será que o cérebro dos preguiçosos não se acomodará e embotará? O que haverá em 3 gerações destes tipos?

É lógico que o que demandou milhões de anos para se desenvolver, não retrocederá em dezenas de anos, mas tal como no mundo físico, o que demanda decênios para se construir, numa implosão de segundos vira pó.

No mínimo, a falta de uso adequado de neurônios, os fará buscar outras atribuições, sabe lá quais.

Uma constatação pontual em São Paulo, no metrô: em que pese o caos geral do país, a falta de perspectivas, a corrupção deslavada, a carência de serviços públicos, o desemprego, constato que 8 entre 10 passageiros do povão (colados no celular) estão constantemente com cara de felicidade. E o Brasil perdeu a Copa do Mundo. É lógico que os serviços disponíveis, a maioria inclusive de graça, são espetaculares. Mas com O QUE estão usando seu tempo?

Se formos adeptos da eterna conspiração, será que isto até já não está sendo observado e tratado com fins inconfessáveis? Políticos, empresários e alucinados inescrupulosos veem apenas seus objetivos imediatos.

Estes assuntos nos remetem à única tábua de salvação, a educação, até a hiper-educação: muita atenção e respeito no tratamento desse tema. A passagem há que ser amigável e, mais que correta e eficiente, ser eficaz.

João Ernesto Figueiredo é conselheiro da AEP. Engenheiro Civil Poli/1965; pós-graduação (área de produção) na Poli/1970; ex-assessor do Presidente Ruy Leme no Banco Central/1968; na engenharia atuou na área de planejamento até 1971; dirigiu instituições financeiras até 1989; foi professor de Mercado de Capitais em cursos de especialização do Instituto Mauá de Tecnologia/80; escreveu livros; desde 1990 atua na área de consultoria financeira de empresas de Engenharia. Foi presidente do Conselho Consultivo do Instituto de Engenharia.

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